sexta-feira, 25 de abril de 2008

Era feriado e ela aproveitou para ir à casa dos amigos, ficar em casa, sozinha em seu quarto não fazia seu estilo. Apesar de sentir uma sutil diferença naquela amiga que antes lhe ligava, sempre a convidava para estarem juntas nem que fosse para fazer nada, ela foi.
"Deve ser coisa da minha cabeça, o fato de ela não me ligar mais mostra que ela realmente está precisando de minha ajuda e companhia agora."
Amava o fato de estar entre pessoas tão especiais, realmente naquela casa se sentia acolhida, se sentia parte da turma, pela primeira vez em sua vida.
A tarde foi realmente agradável. Em um momento, encostada à soleira da porta, confidenciou aquela amiga tão verdadeira: "Cheguei a uma conclusão, apesar de tudo o que já aconteceu, dos tombos que já levei, das vezes em que fiquei magoada..infelizmente preciso admitir eu gosto dele."
"-Minha flor, fico triste com isso.Você o conhece, ele não quer nada sério. Você vai sofrer."
"-Eu sei, mas não posso mandar no coração..este sentimento existe dentro de mim há tempo, apenas venho tentando negá-lo, escondê-lo, afogá-lo...hoje estou admitindo sua existência, mas nada mudará, continuarei sendo a mesma com ele e com todos, se não for para ser então aprenderei a conviver com este sentimento até que ele morra dentro de mim."
"-É....é o melhor que você tem a fazer, como você disse não mandamos no coração e nos sentimentos."
Um abraço para encerrar o momento de confidência.
Ela realmente se sentiu mais leve, mais sincera consigo em admitir aquilo e sentia-se ainda mais completa em ter com quem dividir o seu Amor, em ter com quem se aconselhar..uma amiga mais velha e mais experiente era uma dádiva vinda dos céus. Felicidade plena.
A semana passa....
Na terça não viu a turma mas ligou para a amiga, era tão bom simplesmente ouvir sua voz..
Na Quarta iriam se ver à noite, mas de tardezinha quando chegou em casa do trabalho sua mãe dá uma notícia, a amiga havia ligado para avisar que não haveria ensaio naquela noite (onde iriam se encontrar).
Poxa, que saco. Mas então vamos fazer outra coisa não estou a fim de ficar em casa...-pensou.
Mais uma vez estava a ligar para o número já gravado na memória do seu celular.
"-Alô? Oi meu Amor!!! Tudo bem? Então o ensaio foi cancelado?"
"-Pois é, o outro (sim..o cara que ela admitiu sentir mais que amizade) me ligou hoje de meio dia para avisar que vai ficar trabalhando até meia noite daí tive que desmarcar né.."
"-Humm..mas então vai fazer o que de noite?"
"-Por quê?? Está me cuidando agora também, é?"
"-Quê?? Cuidando? Eu não, porquê?"
"-Hehehe, não é que o meu marido viajou e a irmã dele já ligou aqui pra saber o que vou fazer de noite, se não vou aprontar."
"-Capaz amada..hehehe..mas nem se estressa."
"-Eu sei, eu sei..mas já prometi pra mana que vou no curso de computação com ela."
"-Ahh, nos vemos depois então??"
"-Pode ser, podemor ir a um barzinho tomar alguma coisa. Te dou um toque quando sair do curso."
"-Beleza, até mais tarde então, beijo."
Preparou as coisas para um relaxante banho; A água corria e ela cantava docemente uma música do Vítor e Léo quando decidiu... "não vou ficar esperando aqui, já vou pra casa dela as crianças estão em casa..espero lá portanto"...Isso mesmo, iria para aquela casa acolhedora.
Mais tarde, já em companhia dos pequenos, o seu celular recebe um toque, era o número do celular da amiga que marcava no visor. Retornou a ligação.
"-Oie!!"
"-Oi."
Não era ela, mas a irmã quem atendeu.
"- Eu fiquei com o celular dela, você pode me fazer um favor? Liga no meu que está com ela e avisa que estou esperando onde a gente combinou, já estou preocupada e não tenho créditos para ligar diretamente.
"- Como assim?? -ela pergunta sem entender - Ela não está no curso com você?"
"-Não, ela teve que sair...combinamos de nos encontrar no final, mas ela não apareceu."
"-Mas onde ela foi? Saiu a pé? Teve que ir onde?" - a preocupação lhe tomava conta agora.
A irmã começa a chorar.
"-Não sei, ela foi a pé resolver um negócio liga pra ela, diz que eu estou esperando."
"-Tá bom, se acalma vou ligar pra ela e te retorno."
Procura o número do celular da irmã, portanto, e faz a ligação.

O celular encontra-se indisponível ou fora da área de cobertura.

Uma ruga de preocupação surge; liga novamente.
A mesma mensagem.
Retorna para a irmã e avisa que não conseguiu o contato. A irmã ainda chora copiosamente e faz um apelo:
"Ela deve estar vindo então, por favor não diz pra ela que tu sabe que não estávamos juntas."
"-Como?? Por quê??"
"-Por tudo o que é mais sagrado, ninguém pode saber que ela não esteve comigo durante este tempo, estou te implorando, não conta.."
O choro toma conta dela novamente e o restante da frase se torna incompreensível.
"-Tudo bem, tudo bem, eu não falo nada..daqui a pouco te ligo pra ver se ela apareceu."
Nossa, o que estava acontecendo? Será que a amiga realmente estava "aprontando" como desconfiara a irmã do marido?
Um estranho e bizarro pensamento surge em sua mente e ela tenta afastá-lo de todas as formas possíveis mas ele insiste "Liga pra ele, ele estará mesmo no serviço?"
Meu Deus, como poderia estar pensando numa coisa dessa, óbvio que ele estava.
Passava o celular entre as mãos enquanto brigava mentalmente consigo mesma.
Ligo
Não ligo
Ligo
Não ligo, meu deus
Ligo...

O celular encontra-se indisponível ou fora da área de cobertura.


Não podia acreditar, seria muita coincidência. Não, não poderia pensar besteira, isto não indicava nada, deveria mesmo ser uma terrível coincidência.
Passam-se uns vinte minutos de esforço mental, de possíveis explicações para a situação quando seu celular chama.
É ele.
Ela olha para aquele nome no visor, o nome da pessoa que habita seu coração. Quantas vezes quis ver aquele nome piscando com a mensagem em baixo: "ligando" .... sim, ele ligando.
Não atendeu, quis fazer mais um teste; ele nunca tentava falar com ela mais do que uma vez.
duas, três....quatro.....
sim, desta vez, por quatro vezes ele tentou.
Uma avalanche de pensamentos, a princípio confusos, tomou conta de sua mente, de seu ser.
Ligou novamente, como havia dito que faria, para a chorosa irmã.
"- Oi querida!"
Sim, agora era a amiga que atendia. Havia aparecido.
"-Oi..."
Foi tudo o que conseguiu pronunciar. Um fraco e balbuciado "oi"...
O teto daquela casa, o céu cheio de estrelas daquela noite, o mundo...sentia tudo desabar em sua cabeça. Agora a amiga estava lá, e o celular dele ligado novamente.
E não sabendo da conversa que se dera em sua ausência continuou:
"-Estamos aqui comendo um cachorro quente, vem pra cá."
Com todas as forças que ainda lhe restavam, encheu os pulmões de ar e indagou:
"-Mas vocês estão no cachorro quente? Foram a pé? Você está com sua irmã?"
"-Sim...estou com a mana, vim no curso com ela. Estamos a pé, quer dizer, agora estamos com o Mauro."
"-Mas ele não ia trabalhar até meia noite?"
"-Sim, mas ele conseguiu sair.....nós duas perdemos o ônibus e resolvemos ligar pra ele e ele veio nos buscar, vem pra cá!"
"-Já vou..."
Mentirosa.
Ela simplesmente não conseguia acreditar em tudo o que estava acontecendo, em tudo o que estava ouvindo da boca da tão importante amiga. Ela estava mentindo, jamais esperou por isso.
Começou a andar para lá e para cá na sala, sentia um misto de sentimentos.
Mágoa por ser enganada.
Incompreensão pelas mentiras.
Ódio por ter sido enganada por uma falsa amizade...
As crianças a olhavam sem compreender nada, haviam escutado as ligações mas não tinham como entender o que estava acontecendo, não sabiam das mentiras da mãe e começavam a ficar nervosas também pela caminhada incessante que ela fazia na sala..de um lado a outro, de um lado a outro. Começaram a fazer perguntas.
Com a cabeça latejando ela decidiu "não posso ficar aqui"
Pegou as chaves da moto, o capacete e, após trocar duas ou três frases meio sem nexo com a menina que estava cuidando dos pequenos, saiu.
Saiu sem rumo..tudo perdera o sentido.
Mas estava com medo, acima de tudo predominava o medo. O medo de si mesma pois os acontecimentos despertaram um sentimento perigoso em uma pessoa tão compreesiva, tão doce, tão apaziguadora..... A Raiva.
Podia sentir o sentimento correndo por suas veias, pelo corpo todo..irrigando o cérebro.
Perigo
Passou na frente da lancheria e os avistou sentados; Três réus, três cúmplices...três facas bem cravadas em seu peito.
Dor
Em um último flash de consciência deu partida na moto.
Se ficasse os estragos iriam ser inenarráveis.
Estacionou bem longe para não correr o risco de perder a cabeça. Estava em outra rua, outro bairro; Mas na verdade gostaria de estar em outro corpo, ser outra pessoa..jamais pensou em passar por tudo isso e infelizmente não havia como fugir.
Pensava. Pensava. Pensava.
Sentia não possuir mais órgãos internos, estava tudo corruído pelo grande vazio que se instalava em seu peito agora.
Indignação.
Foi neste momento que ligou novamente. A amiga atende.
"-Flor? Estamos te esperando, que demora!"
"-Me passa sua irmã."
Silêncio. A amiga sentiu a diferença no tom de voz.
"-Onde você está? Estou indo pra casa te encontrar."
Ela desligou, não aguentou mais ouvir aquela voz.
Deu-se mais 20 ou 30 minutos de sobreposições de sentimentos naquele peito tão magoado e a indignação novamente volta.
Nova ligação. O telefone nem chega a completar a primeira chamada.
"-Porquê você não me esperou?"
"-Me passa tua irmã, quero falar com ela."
"-Ela ficou em casa, estou com o Mauro. Cheguei em casa e a minha filha estava com dor de dente, estamos indo com ela no plantão."
Dor de dente? A criança estava muito bem quando ela havia saído de lá.
Desligou novamente e sem pensar ligou na casa.
A irmã atende.
"-Só vou te fazer uma pergunta: Onde ela estava e com quem?"
"-Ai...por favor, não aconteceu nada....ela foi resolver umas coisas..é que eu que fiquei nervosa e acabei te ligando."
"-Onde ela estava e com quem?" Seu tom era mais gelado que o mais rigoroso dos invernos.
"-Eu não sei!" mais lágrimas "Deixa isso pra lá..por favor"
"-Ela apareceu lá de carona com o Mauro?"
"-Não. A máquina que ele estava trabalhando quebrou e ele passou lá pra me pegar e nós dois pegamos ela no caminho pro cachorro quente."
"-Não me enrola."
"-Não estou te enrolando, é verdade."
"-..Tchau."
As coisas ficavam cada vez piores. A amiga não tinha lhe dito que as duas haviam perdido o ônibus e então ligado para ele? Como agora a irmã afirmava que ele havia passado lá , pegado ela e depois é que encontraram a amiga? E como ele sabia que ela estava na saída do curso?
Muita enganação. Não sabia em quem confiar.
Não queria mais saber de nada, de mais algumas possíveis versões que seriam por eles inventadas para ocultar a verdade, os fatos.
Ligou sua moto, a única companheira que havia lhe restado, e se foi pela noite.

Um comentário:

. samanta vanz . disse...

eu ia lhe parabenizar pelo texto - mas acho que não é a hora certa pra isso...